Para além da questão gastronômica, o movimento do slow food, nos instiga a (re)ver as relações complexas dos alimentos através de outras óticas, por ventura – ou não?! – esquecidas, que incluirão novas variáveis – as chamadas, externalidades negativas, da economia política - a serem consideradas no debate, como as condições do trabalhador rural, problemas ambientais, homogenização cultural dos povos, acelerado ritmo de vida e a globalização. Ou seja, ao questionar o comportamento humano diante da desigualdade, o gastrônomo preocupa-se com aquilo que o cerca, passa a ser um novo tipo de indivíduo, agora coprodutor do alimento, consciente de que é parte de uma comunidade de destino. É preciso redimensionar a disciplina da Gastronomia, proporcionando sua abertura para outros níveis de complexidade, convocando todas as diversas ciências que lhe possam render conexões. A partir daí o gastrônomo estabelece compromissos – de formação continuada, de respeito aos saberes tradicionais e de co-produção – onde comer não é apenas nutrir-se, mas sim, ato agrícola e produzir deve ser uma ato gastronômico. O verdadeiro gastrônomo coletivo - rede de gastrônomos – nutre-se da diversidade, da solidariedade em prol de um bem comum, subsidiado por quatro etapas principais: 1ª) examina os problemas globais e detecta causas no sistema alimentar; 2ª) faz uso da ciência complexa e identifica sua impotência sem a completude do outro; 3ª) ao reconhecer-se no outro, iguala-se, solidariza-se, e educa-se com o outro; 4ª) a partir daí descobrem-se as parcerias que constituirão a rede, que tem fome de mudança e vontade de fazê-la. Por isso a formação gastronômica não ocorre só na leitura ou na frequência de restaurantes – ou seja, não só teórico ou só prático – mas na experiência que conflui na formação individual, no convívio com os que pensam, produzem e/ou transformam o alimento, estabelecendo uma conexão com a terra, a favor de uma produção-consumo mais justa, sustentável e agradável. (PETRINI, 2009)