sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

RESENHA CRÍTICA – O MAL-ESTAR DA CIVILIZAÇÃO




1. Identificação da obra

FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. São Paulo: Penguin Classic & Conpanhia das Letras, 2011.

2. Credenciais do autor: Freud (1856 – 1939) iniciou seus estudos em medicina aos 17 anos de idade ao ingressar na Faculdade de Medicina de Viena. Começou seus estudos na área utilizando-se do método de hipnose divulgadas por Jean-Martin Charcot, em especial para o tratamento de pacientes com histeria. Foi médico neurologista e fundador da psicanálise e entre seus ensaios mais famosos estão: O Eu e o Id; A interpretação dos sonhos; e Três ensaios sobre a sexualidade


3. Resumo da obra

            Escrito próximo aos dias que antecederam o colapso da Bolsa de Valores de Nova York (1929) e publicado pela primeira vez com o título de “Das Unbehagen In Der Kultur” em Viena no ano de 1930, nesse ensaio Freud ateve-se aos estudos sobre as origens da infelicidade, o conflito entre indivíduo e sociedade e seus diferentes aspectos na civilização. Nesta obra clássica da antropologia e sociologia, Freud constrói uma espécie de “teoria psicanalítica da política” ao mergulhar, salvaguardado por seus pensamentos, na análise da cultura e civilização de sua época e de suas relações conflituosas com a sexualidade. Fundamentado a partir dos conceitos biológicos de origem da libido e da agressividade, Freud propôs que a repressão e a sublimação dos instintos sexuais, canalizados esses para o mundo do trabalho, compõem as principais causas das doenças psíquicas de sua época.

            De modo geral, Freud aponta que as pessoas atribuem falsas medidas para si mesmas – de poder, sucesso, riqueza - e as contemplam nos outros, ao passo que subestimam os autênticos valores da vida. Valores estes encontrados em grandes homens, contudo, não reconhecidos e completamente alheios aos objetivos e ideais das multidões.

            Em um primeiro momento o autor referencia-se em uma de suas obras anteriores (O futuro de uma ilusão) e menciona a título de exemplo, como homem excepcional de sua época, Romain Rolland (1866 – 1944) – premiado com o Nobel em Literatura no ano de 1915. As observações de Rolland, quando a obra citada anteriormente, serviram de premissas para que Freud escreve-se então “O mal-estar na civilização”. Quanto a essas premissas, Freud destaca a necessidade em considerar a fonte da religiosidade a partir de um sentimento tido como “oceânico” ou “sensação de eternidade”, de acordo com as sugestões de Rolland.

            A partir desta perspectiva de sentimento oceânico, os indivíduos poderiam considerar-se religiosos mesmo que desapegados de conceitos como a fé e rejeitando toda a ilusão advinda dessa maneira de pensar. Este seria um sentimento de vinculação indissolúvel, de comunhão com todo o mundo exterior e com o caráter de uma percepção intelectual provida de certa afetividade que, embora não fosse experimentada pelo próprio Freud, também não o autorizaria a questionar seu eventual aparecimento em outros. Contudo, o que Freud coloca em questão é o fato de essa interpretação poder ser admitida como fons et origo (fonte e origem) de todas as necessidades religiosas.

            Para tanto, Freud traça uma explicação psicanalítica – genética – para essa sensação, apontando que de início nada é mais seguro do que o sentimento de nós mesmo, ou seja, do nosso Eu, e este Eu desdobra-se interiormente em uma entidade psíquica denominada Id constituindo uma relação entre o Eu e o Id. O Eu, edifica de certa forma uma fachada entre o Id e o mundo externo, mas, de acordo com a ideia de sentimento oceânico, é impossível que essa relação tenha se dado desde o princípio, ao invés disso, ela se construiu no adulto evolutivamente.

            A princípio, o bebê lactante não separa seu Eu do mundo externo, mas aprende a fazê-lo aos poucos em um exercício de construção da sua própria vida psíquica em resposta a estímulos diversos. Entre esses estímulos, o mais desejado e primário é o seio materno, que na sua falta desperta no Eu a vontade pelo objeto que está fora de seus limites e que, através dos gritos e choro, reclama seu retorno orientado pelo princípio do prazer. Nessas inevitáveis sensações de prazer/desprazer o Eu constrói suas fronteiras primitivas de Eu-de-prazer que procuram evitar as sensações de dor e desprazer, isolando-se do externo “fora” ameaçador e buscando pra si os objetos – neste caso o seio materno – que lhe são fontes de prazer.

Através da atividade de seus sentidos e ações musculares intencionais, distinguem-se o interior e o exterior e dá-se o primeiro passo para instauração do princípio da realidade que regerá o desenvolvimento futuro. Dos resquícios do estado original, onde o Eu bebê estabelecia uma íntima ligação com o mundo em torno, pode-se supor uma sobrevivência desse sentimento ainda pertencente ao Eu que se fez adulto. O passado pode ficar conservado na vida psíquica, em maior ou menor grau de concentração, e não tem necessariamente que ser destruído.

            Nesta altura, Freud se pergunta: mas que direito tem esse sentimento de ser visto como a fonte das necessidades religiosas? Esse tipo de direito só pode ser adquirido por algum tipo de sentimento que expresse uma forte necessidade vital e só pode ser conservado na vida adulta por um medo perante o superior poder do destino. O sentimento oceânico, de estado conjunto ao universo, identifica-se como uma forma de consolo religioso que procura negar os perigos e ameaças do mundo externo. É doloroso para Freud, no entanto, pensar que a grande maioria da humanidade nunca se colocará a par ou acima desta concepção de vida. O homem comum entende a religião de modo infantil, como um sistema de doutrinas e promessas satisfatórias que lhe garantem guardar seus dias das desventuras do destino e que compensarão suas possíveis frustrações em outra existência.

            No final desta argumentação, Freud cita uma de suas grandes influências, Johann Wolfgang von Goethe (apud Freud, 2011): “Quem tem ciência e arte,/ tem também religião;/ quem essas duas não tem,/ esse tenha religião!”.

Neste ponto, Freud aponta a oposição feita pelo escritor entre a religião e ao que considera as duas maiores realizações do ser humano: a ciência e a arte. A partir desse pensamento começa a formar uma linha de raciocínio que procure “construções auxiliares” na intenção de hipoteticamente privar o homem comum de sua religião. Essas “construções auxiliares” seriam então suportes para enfrentar as intempéries da vida e esse meio particular poderiam se dividir, talvez, em três vias: a da poderosa diversão; das gratificações substitutivas; e das substâncias inebriantes. Contudo, no que concerne a questão da finalidade da vida humana, Freud não procura estabelecer resposta satisfatória e conclui que a resposta à questão existe em função do sistema religioso e que ironicamente só este poderia querer sanar tal problemática, passando assim para questões menos ambiciosas:

O que revela a própria conduta dos homens acerca da finalidade e intenção da vida, o que pedem eles da vida e desejam alcançar? É difícil não acertar a resposta: eles buscam a felicidade, querem se tornar e permanecer felizes (FREUD, p. 19, 2011).


            Esta busca pela felicidade desdobra-se em duas direções: uma meta positiva que compete à vivência de fortes sensações de prazer; e uma meta negativa que procura a ausência de dores e desprazeres. Retorna-se aqui ao programa do princípio do prazer, que é o que estabeleceria a finalidade própria da vida.  No entanto, Freud acredita que esse programa encontra-se em desacordo com o mundo inteiro, tanto dentro de uma perspectiva microcósmica tanto quanto em uma perspectiva macrocósmica. Ou seja, a possibilidade de que o homem ser feliz não está inscrita no plano da “Criação” e naturalmente é possível apenas como fenômeno episódico, de modo contrário, a infelicidade é bem mais comum de se experimentar e decorre principalmente de três maneiras: do próprio corpo; do mundo externo; e da relação com outros seres humanos.

            Dentro dessa perspectiva, o princípio do prazer converte-se de modo mais modesto ao princípio da realidade sob as rédeas do mundo externo onde a felicidade dá-se mais na fuga do desprazer e da desgraça deixando em segundo plano a busca e conquista do prazer.

Essa incessante procura dos seres humanos por um caminho da felicidade trilhou as mais diversas rotas e foram recomendadas as mais diferentes soluções a esta questão. Dos métodos, embora se reconheça a incompletude de toda investigação neste âmbito, podem ser destacados: o hedonismo que procura satisfazer de forma irrestrita suas necessidades, lançando o gozo à frente da cautela; a felicidade da quietude encontrada na reclusão do asceta na medida em que esse se abstém da realidade; na submissão da natureza, através das técnicas oriundas da ciência, à vontade humana em benefício da maioria; e de modo mais “cru”, contudo o mais eficaz, pela intoxicação.

Independente dos métodos considerados, a sensação de felicidade, guiada pelo princípio do prazer, é mais potente quando é satisfeito um impulso instintual selvagem do que quando se satisfaz um impulso domesticado. Todavia, devido à impossibilidade de se constituir uma civilização onde tais impulsos possam ser consumados é preciso que o Eu iniba sua selvageria, redirecionando-a a prazeres mais amenos.

Diante desses fatos, a possibilidade que se apresenta é a do deslocamento da libido e ou uma sublimação dos instintos a fim de evitar as frustrações decorrentes de tal conduta. Os melhores resultados são conquistados quando se alcançam ganhos suficientes de prazer através das fontes de trabalho psíquico e intelectual, obstante a isto, a fraqueza desse método encontra-se em sua impossibilidade de aplicação geral, como era visível na civilização da época, onde a atividade profissional na maioria das vezes ocorria de forma forçada pela necessidade de subsistência e não pela escolha livre dos indivíduos, acarretando consequentemente graves problemas sociais devido à natural aversão humana ao trabalho indigno que o condena ao desprazer.

            A tragédia reside no fato de que não nos é permitido abandonar esse programa de ser feliz imposto pelo princípio do prazer e de impossível plenitude. Resta a ausência de conselhos válidos para todos e a necessidade de cada qual trilhar seus caminhos particulares de ser feliz. Neste ponto a constituição psíquica do indivíduo, à parte das influências externas, é determinante.

Aquele predominantemente erótico dará prioridade às relações afetivas com outras pessoas; o narcisista, inclinado à autossuficiência, buscará as satisfações principais em seus eventos psíquicos internos; o homem de ação não largará o mundo externo, no qual pode testar sua força (FREUD, p. 28, 2011).

Não há também dentro dessa ótica certeza de êxito ao se adotar determinadas características. Do contrário, a adoção de quaisquer das técnicas de vida, de modo singular, pode antes representar perigo na medida em que esta se apresente como inadequada. Não se deve aguardar satisfação provinda apenas de um único direcionamento. Assim como, o não ajustamento a nenhuma dessas premissas pode resultar em fuga para a doença neurótica ou desesperada tentativa de rebelião que configura a psicose.

Neste sentido pode considerar como um caso de neurose, o ser que não consegue suportar a quantia de privações que a sociedade lhe impõe em desacordo com seus ideais culturais, ou seja, contra o princípio de prazer.

Por fim, o apelo à religião - no senso comum - em última estância, mesmo transformando-se em obstáculo dentro desse processo de escolhas e adaptações, ao impor uma única via régia, livra ao menos o indivíduo de ser um neurótico solitário, configurando-se como um delírio partilhado, ou seja, uma neurose coletiva. Delírio esse, também insuficiente, pois admite que lhe reste como última possibilidade de consolo à submissão incondicional a vontades que lhes são incontroláveis e diante disso poderia ter se poupado de tantos questionamentos. Por outro lado, os avanços conquistados pela humanidade nas áreas das ciências naturais e suas aplicações para obtenção dos anseios da humanidade, não supriram as demandas de prazer almejadas. Do contrário, como indica a crítica pessimista, suas soluções seguem o modelo de “prazer barato” que na maioria das vezes só servem para sanar desprazeres que por ela mesma foram criados.

Elucidadas algumas possíveis causas de desprazer e infelicidade do homem, Freud debruça-se em um segundo momento para as questões acerca do quê seria a civilização em sua essência, cujo valor da felicidade é tão exaltado e simultaneamente posto em dúvida.

A palavra civilização designa a inteira soma das realizações e instituições que afastam a nossa vida daquela de nossos antepassados animais, e que servem para dois fins: a proteção do homem contra a natureza e a regulação dos vínculos dos homens entre si (FREUD, p. 34, 2011).

De início, Freud parte de uma breve definição de cultura, “todas as atividades e valores que são úteis para o ser humano, colocando a terra a seu serviço” (FREUD, p. 34, 2011) e considera como os primeiros atos culturais da humanidade o uso de instrumentos, o domínio do fogo e a construção de moradias. A humanidade, portadora desses poderosos patrimônios culturais, paralelamente formulou suas explicações mitológicas e idealizou concepções relativas à onipotência e onisciência - frutos de seus desejos inatingíveis - as quais atribuiu aos seus deuses. Os deuses então se configuraram como ideais culturais e na medida em que esta civilização aproximava-se de tais ideais, ao mesmo tempo se confundia a eles, a ponto de tornar-se ela própria, em parte, quase o seu próprio deus. No entanto, resta ao fato desses semideuses ainda assim não se sentirem feliz com tal semelhança.

Outro traço relevante que caracteriza a civilização é o estimado valor atribuído ao cultivo das atividades psíquicas elevadas tais como o desenvolvimento de sistemas religiosos, filosóficos, intelectuais, científicos e artísticos. Não obstante a isso, valores como a beleza, limpeza e ordem são de nítida importância dentro das exigências culturais comuns. Por último, e não menos importante, as relações sociais e suas formas de regulação também tem merecido destaque para a conformação de um modelo sustentável de civilização. Neste sentido, exigências como a constituição de direitos em defesa dos interesses de uma maioria, que se estabeleçam através de um conceito de justiça, e que garantam uma ordem legal são aconselháveis para a manutenção da vida em sociedade.

Nota-se aqui, que a liberdade individual não é pressuposto básico da cultura, do contrário, ela era maior em tempos anteriores a civilização, contudo era também inútil devido ao fato de o indivíduo pouco poder fazer para defendê-la. Como proposto por Freud em obra anterior - Totem e tabu - é na vitória sobre o pai que os filhos descobrem a força da associação na luta contra um indivíduo solitário. Daí decorre a cultura totêmica e boa parte da sina da humanidade, em torno dessa tarefa de encontrar um equilíbrio adequado que incorpore a lógica do princípio de prazer e satisfaça tanto as exigências individuais como aquelas de grupo a fim de preservar esse novo estado de poder. Dito de outra maneira, “o homem civilizado trocou um tanto de felicidade por um tanto de segurança” (FREUD, p. 61, 2011).

Esta escolha consequentemente não gerou somente bônus ao homem. Tivemos como ônus desta troca a supressão, a repressão ou o deslocamento da libido das metas de instintos poderosos, ou seja, por meio da sublimação os instintos tiveram que curvar-se aos meandros da civilização o que ocasionou certamente considerável “frustração cultural”.

Os impulsos instintuais selvagens inibidos em suas metas foram redirecionados para duas outras vias que despertaram satisfatória compensação econômica:

“a compulsão ao trabalho, criada pela necessidade externa, e o poder do amor, que no caso do homem não dispensava o objeto sexual, a mulher, e no caso da mulher não dispensava o que saíra dela mesma, a criança” (FREUD, p 46, 2011).

Nesta altura da obra, Freud aborda questões relativas ao amor genital e amor universal (franciscano), dá corrente inibição dos desejos do Id manifestos na infância, das proibições por meio de normas de convivência e da consequente frustração da vida sexual que isso gera e a qual os indivíduos neuróticos não suportam. Freud denuncia que tais proibições sancionadas ao Id infantil pela sociedade, onde este se encontra incluso, estabelecendo meios uniformes de exercer o sentimento de amor e ignorando as desiguais constituições sexuais inatas de cada ser humano, acarretam grande prejuízo ao homem civilizado e apresentam-se como um processo contrário a evolução e a finalidade da vida.

Adiante, Freud aponta a necessidade de se reconhecer que não só de instintos do Eros e de ávido amor o homem é feito, mas também de severos instintos de morte e destruição. A partir de então, elabora uma crítica à sociedade de sua época, impressionado com os horrores e infelicidades que viveu e observou durante os períodos de guerra e pós-guerra. Retorna ao pensamento de Hobbes (apud Freud, p. 57, 2011) em uma de suas máximas, “Homo homini lupo” e considera que mesmo estando os indivíduos aptos a ligarem-se pelo amor, é condição sine ne qua non que existam para isso outros indivíduos marginalizados desse processo aos quais pode-se lançar a destruição e a agressividade instintual, frutos do “narcisismo das pequenas diferenças” e  dos impulsos de morte (Thanatos). Eros e Thanatos, juntos partilham o domínio do mundo.

Após essas importantes colocações, Freud questiona-se a respeito das relações que a cultura poderia estabelecer para lidar com o problema da agressividade - “De que meio se vale a cultura para inibir, tornar inofensiva, talvez eliminar a agressividade que a defronta?” (FREUD, p. 69, 2011) - e o que aconteceria no caso desse impulso instintivo não poder ser externalizado.

De acordo com Freud, a agressividade tomaria o caminho de volta e acabaria por sua vez sendo internalizada e dirigida contra o próprio Eu, transformando uma parte do Eu em oposição ao próprio Eu, na forma de Super-eu.

À tensão entre o rigoroso Super-eu e o Eu a ele submetido chamamos consciência de culpa; ela se manifesta como necessidade de punição. A civilização controla então o perigoso prazer em agredir que tem o indivíduo, ao enfraquecê-lo, desarmá-lo e fazer com que seja vigiado por uma instância no seu interior, como por uma guarnição numa cidade conquistada (FREUD, p. 69, 2011).

Seguindo por essa premissa, a consciência de culpa é uma resposta do Super-eu ao Eu quando este indivíduo sabe-se pensando ou fazendo algo “mau” e este “mau” por sua vez é um comportamento reprimido pelo medo da perda do amor do próximo, amor “social”, e/ou do castigo. Assim sendo, o que impede esses impulsos reprimidos de se externalizarem são, o medo depositado na figura externa de uma autoridade social superior, e o medo de por ventura ser descoberto por esta, ou o medo do próprio Super-eu que se sente culpado por seus instintos de morte.

Por fim, Freud nos deixa algumas perguntas: as culturas tornaram-se “neuróticas” devido aos esforços culturais empreendidos? Adiantaria de algo a mais elaborada análise de tal patologia social se ninguém possui autoridade suficiente para impor tal terapia de grupo? Na incessante luta entre os eternos adversários Eros e Morte, onde nas circunstâncias atuais prevalece o pessimismo, quem poderá prever qual desfecho aguarda a espécie humana?

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