“A gastronomia governa a vida inteira do homem; pois os choros do recém-nascido reclamam o seio de sua ama-de-leite, e o moribundo recebe ainda com prazer a porção suprema que, infelizmente, não pode mais digerir. Sua influência se exerce em todas as classes da sociedade; pois ela que dirige os banquetes dos reis reunidos, também é ela que calcula o numero de minutos de ebulição necessários para que o ovo fresco seja cozido ao ponto.” (BRILLAT-SAVARIN, pg.58, 2005).
Quando sentamos a mesa, junto de familiares, amigos ou colegas de trabalho, quando participamos de datas festivas, comemorações familiares, matrimônios, celebrações típicas ou quotidianamente, para nos alimentarmos, desempenhamos um tarefa maior do que apenas garantir a nossa restauração biológica, ao comermos, reparamos nossas perdas e prolongamos nossa existência. Objetivamos uma melhor alimentação, e “arranjar” tempo para saborear, é uma forma simples de tornar o corriqueiro mais prazeroso, otimizando a qualidade de vida. Resumidamente, essa e a filosofia “Slow Food”.
A alimentação transcende apenas a restauração, torna-se um centro da vida e convivência do homem em grupo, esta tem uma profunda influência no que nos rodeia - a paisagem, a biodiversidade da terra e as suas tradições. Para um verdadeiro gastrônomo é impossível ignorar as fortes relações entre prato e planeta. Toda essa complexa rede de processos alimentares, que faz com que os alimentos, nascerem, germinem, crescerem, até serem encaminhados, transportados, sofrendo as mais diferentes alterações para então se tornem o pão e o vinho.
Fundado em 1986 em Itália, o Slow Food tornou-se uma organização internacional sem fins lucrativos em 1989 e é atualmente composto por cerca de 850 ‘Convivia’ ou células locais do movimento, cuja força reside na sua vasta rede de mais de 100.000 associados.
A sede internacional do Slow Food é em Bra, Itália. O Slow Food opera tanto localmente, como junto de instituições internacionais como a FAO - Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação. Estabelece laços de amizade com governos em todo o mundo, prestando consultoria para o Ministério da Agricultura italiano, trabalhando com o presidente da câmara de Nova Iorque e colaborando com o governo Brasileiro.
O Movimento “Slow” busca através dos seus conhecimentos gastronômicos relacionados com a política, a agricultura e o ambiente, juntar o prazer pela alimentação ao consumo consciente e sustentável, defender a biodiversidade na cadeia de distribuição alimentar, difundir a educação do gosto, e aproximar os produtores de consumidores.
“Bom, Limpo e Justo: Manifesto Slow Food para a Qualidade” é um dos meios criados pela organização para conscientização, tornando-se uma opção ecologicamente correta, não só para restituirmos nossas necessidades biológicas, mas para tornar o momento da refeição algo prazeroso.
“O sabor, a biodiversidade, a saúde de humanos e animais, o bem estar e a natureza estão sob ataque contínuo. Isto põe em risco o próprio desejo dos gastrônomos de comer e produzir alimentos e o exercício do direito ao prazer sem causar danos à existência dos outros e ao equilíbrio ambiental do planeta que vivemos.” (Site Slow Food Brasil).
De acordo com o manifesto deve-se observar três qualidades que um alimento deve ter:
Bom: o sabor e aroma do alimento, reconhecido por sentidos educados e bem treinados, é fruto da competência do produtor e da escolha de matérias primas e métodos de produção, que não devem de maneira nenhuma alterar sua naturalidade.
Limpo: O ambiente tem que ser respeitado e práticas sustentáveis de agricultura, manejo animal, processamento, mercado e consumo devem ser levados em consideração. Cada estágio da cadeia de produção agro-industrial, incluindo o consumo, deve proteger os ecossistemas e a biodiversidade, salvaguardando a saúde do consumidor e do produtor.
Justo: A justiça social deve ser buscada através da criação de condições de trabalho respeitosas ao homem e seus direitos e deve ser capaz de gerar remuneração adequada; através da busca de economias globais equilibradas; pela prática da simpatia e solidariedade; pelo respeito às diversidades culturais e tradições.
Para conseguir atingir esse objetivo é necessário antes estabelecer uma conexão afetiva religando o sujeito ao objeto (homem/natureza) para criar-se uma consciência Gastronômica incutindo na formação acadêmica o paradigma da alimentação boa, limpa e justa. Para que se possa a partir daí criarem-se estratégias que possibilitem o estudo e disseminação do tema a partir de um método inovador no processo de aprendizagem.
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